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miércoles, 29 de febrero de 2012

A IGREJA CATÓLICA E OS HOMOSSEXUAIS: A GOTA D´ÁGUA

A IGREJA CATÓLICA E OS HOMOSSEXUAIS: A GOTA D´ÁGUA
ENÉAS CASTILHO CHIARINI JÚNIOR(*)
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(*) Advogado e pós-graduando em Direito Constitucional pelo IBDC (Inst. Bras. de Dir. Constitucional) em parceria com a Fac. de Dir. do Sul de Minas
A “Santa” Igreja Católica Apostólica Romana aprovou, recentemente, certas “Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais”, e que estão causando, com razão, desconforto na comunidade GLSBT mundial.
Começa o documento por tratar da questão da “homossexualidade”, quando já é de conhecimento de todos que
"...homossexualismo deixou de ser doença. Á décima revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial de Saúde, exclui, depois de quase vinte anos, o homossexualismo como doença.' [...] o então presidente do Conselho Federal de Medicina, psiquiatra Ivan Moura Fé, afirmou que 'muitas vezes, os próprios pais levam os filhos homossexuais ao médico, porque acreditam que eles são doentes; a situação deixa os profissionais confusos, já que não é encontrado nenhum sinal que indica a existência de uma anomalia.'" (1).
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(1) Obra citada, pág. 19.
mais adiante, conclui o mesmo autor que "É, comprovadamente, uma opção de vida." (2)
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(2) Obra citada, pág. 83.
Em decorrência da não caracterização da homossexualidade como doença, o termo homossexualismo deixou de constar nos diagnósticos da CID-10, pois, o sufixo "ismo" que significa doença, foi substituído por "dade" que designa modo de ser. Segundo os médicos o homossexualismo não pode mais ser
"...sustentado enquanto diagnóstico médico. Isto porque os transtornos dos homossexuais realmente decorrem muito mais de sua discriminação e repressão social derivados do preconceito do seu desvio sexual. Desde 1991, a Anistia Internacional considera violação aos direitos humanos a proibição da homossexualidade."
A Igreja, no parágrafo 2 afirma que
“Nenhuma ideologia pode cancelar do espírito humano a certeza de que só existe matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente, que através da recíproca doação pessoal, que lhes é própria e exclusiva, tendem à comunhão das suas pessoas. Assim se aperfeiçoam mutuamente para colaborar com Deus na geração e educação de novas vidas”
Data vênia, esta é uma definição que não pode ser aceita como exata, pois, se o fim do casamento é, entre outras coisas a reprodução e a criação de filhos, não poderiam se casar as pessoas que, por qualquer motivo, não possuíssem capacidade reprodutiva, como por exemplo, os impotentes, mulheres que retirassem, mediante cirurgia, e por motivo de saúde, seu útero ou ovários, entre inúmeros outros casos.
Ponto de vista este, com o qual o iminente jurista Washington de Barros Monteiro concorda ao dizer que
"Há quem sustente ser a procriação exclusiva finalidade do matrimônio. Não procede, todavia, semelhante ponto de vista, que deixa sem explicação plausível o casamento in extremis vitae momentis e o de pessoas em idade avançada, já privadas da função reprodutora. Além disso, aceito que a reprodução constitua o fim exclusivo do matrimônio, ter-se-ia logicamente de concluir pela anulação de todos os casamentos em que não advenha prole, conclusão profundamente perturbadora da estabilidade do lar e da segurança da família." (3)
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(3) Idem, pág. 14.
E, mais adiante em sua obra, lembra ainda que o casamento
"...não tem exclusivamente por fim a procriação; visa também ao estabelecimento de união afetiva e espiritual entre os cônjuges. Uma vez que essa união pode ser alcançada, inexistirá motivo para anular o casamento, só porque dele não adveio prole, em razão da esterilidade de um dos cônjuges. A jurisprudência é pacífica a respeito, tanto para a mulher como para o homem." (4)
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(4) Idem, pág. 99.
Desta forma, não se vê, até o presente exposto, por que impedir-se a união, e por que não dizer, o casamento, entre homossexuais. Se a finalidade do casamento não é, como obviamente nunca poderá ser, a procriação, os homossexuais, em tese, poderiam se casar. Mesmo porque, frente às mais recentes descobertas e avanços científicos da medicina, é possível vislumbrar-se a possibilidade de, em breve, os indivíduos homossexuais virem e ter filhos, o que no caso de homossexuais femininas, atualmente já pode ocorrer, quer seja pela técnica da clonagem (que, por enquanto, é condenada pela sociedade), quer seja pela técnica da fertilização in vitro, e posterior implantação do feto no útero feminino.(5) Ou ainda, por mais absurdo que possa parecer, existe também a possibilidade de, num futuro não tão longínquo, o homem (ser humano do sexo masculino) ter a capacidade de gerar em si mesmo uma vida fecundada in vitro, como acontece no filme "Júnior", em que o ator Arnold Schwaseneger faz o papel de um homem que "fica grávido", O que não é, na verdade, uma "bobagem" como pode parecer, pois é sempre lícito lembrar dos casos, que embora raros, de mulheres nas quais ocorre o desenvolvimento de filhos fora do útero, próximo às paredes do intestino (conhecido por gravidez ectópica), de modo a vislumbrar-se, ao menos em tese, a possibilidade de um indivíduo do sexo masculino poder dar à luz a um filho que, após concepção in vitro, venha a ser implantado em seu abdômen.
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(5) Para reforçar tal argumento de que é possível que casais homossexuais tenham filhos, pertinente é a nota jornalística trazida pela revista Istoé em 22 de dezembro de 1999, segundo a qual os homossexuais britânicos Barne Drewitt e Tony Barlow que vivem há 11 anos como marido e mulher sempre acalentaram o desejo de ter um filho gerado por uma mãe de aluguel inseminada com o esperma de um deles, e como a Justiça da Grã-Bretanha não autorizou, Barne e Tony contrataram a mãe de aluguel nos EUA, Rosalin Bellamy, que deu à luz a gêmeos, cujas certidões de nascimento, além de constarem o sobrenome de ambos os “pais”, não esclarece de quem é o sêmen, constando apenas, no espaço destinado à filiação, as inscrições “Pai 1” e “Pai 2”, não constando o nome da mãe. Pertinente, ainda, é a reportagem da revista Manchete de 14 de novembro de 1998, segundo a qual o médico italiano Nicolo Scuderi, catedrático em Cirurgia Plástica na Universidade de Roma, e especialista em microcirurgia e reconstrução de órgãos genitais, “...anunciou que pediu autorização ao Ministério da Saúde para efetuar, pela primeira vez na História, o transplante de pênis...Sobre as possibilidades funcionais do órgão a ser transplantado o cirurgião plástico é cauteloso: ‘O órgão masculino de uma pessoa morta transplantado para um vivo pode ter função urinária, mas não temos absoluta certeza de que vá funcionar no campo sexual. Depende de inúmeros fatores e da reação de cada paciente. Mas há a importância da questão física na vida pessoal e coletiva do indivíduo. Por exemplo, as duas pacientes juridicamente autorizadas a trocar de sexo se sentiriam pessoas completas e não seres mutilados.’” Tornando-se lícitas especulações a respeito da possibilidade de indivíduos homossexuais darem à luz.
Pelo parágrafo 4, chega-se a conclusão de que se a homossexualidade é condenada (mais pela igreja que) pela Bíblia, e se, após a morte, aqueles que praticarem atos homossexuais serão condenados por Deus, é uma coisa que diz respeito apenas aos homossexuais, uma vez que estes têm o livre-arbítrio para fazerem o que bem entenderem.
A Igreja insiste em combate abertamente a homossexualidade, baseando-se em escritos bíblicos, porém, o que os mesmos cristãos se esquecem é que na mesma bíblia de onde tiram os motivos para condenar os homossexuais, existe uma passagem que diz "Não julgueis, para que não sejais julgados." (Mateus 7:1).
Mesmo que o homossexualismo seja combatido pela bíblia (o que, como se verá adiante não é comprovado) e, consequentemente contra a vontade de Deus, quem será suficientemente bom e sem pecados para ser digno de julgar alguém? Se, nem mesmo Jesus teve a ousadia de julgar as pessoas, quem seremos nós, míseros mortais e pecadores para fazermos o julgamento de alguém? Ademais, "...aquele dentre vós que está sem pecado que lhe atire uma pedra" (João 8:7).
Só a Deus cabe julgar, à nós, seres humanos, cabe amar ao próximo como a nós mesmos, fazendo o bem, sem olhar a quem, conforme a parábola do Bom Samaritano, narrado em Lucas 10:1-42.
No parágrafo 5 a Igreja usa o termo “imoral” para designar tais relacionamentos. Pois bem, todos sabemos que a moral é algo subjetivo. O que é moral para mim pode não ser para você. Assim a homossexualidade deve ser tratada como algo pertencente ao campo moral: quem é contra a homossexualidade que não pratique atos homossexuais; porém, aquele que acredita que a homossexualidade é algo perfeitamente moral, que tenha a liberdade de praticar (ou não praticar) atos homossexuais, e que seja juridicamente protegido apesar de sua escolha.
Ainda no mesmo parágrafo 5, a Igreja diz que leis que legalizam as uniões homossexuais são “tão gravemente injustas”. Eu pergunto: onde está a injustiça?
O documento afirma, ainda, que:
“A função da lei civil é certamente mais limitada que a da lei moral. A lei civil, todavia, não pode entrar em contradição com a recta razão sob pena de perder a força de obrigar a consciência. Qualquer lei feita pelos homens tem razão de lei na medida que estiver em conformidade com a lei moral natural, reconhecida pela recta razão, e sobretudo na medida que respeitar os direitos inalienáveis de toda a pessoa...” (6)
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(6) Parágrafo 6.
Um dos mais importantes Direitos do ser humano e, portanto, inalienável é a Liberdade de ser (ou não ser) homossexual e de exprimir sua sexualidade como bem lhe aprouver.
Segundo o documento da Igreja:
“...convém refletir, antes de mais, na diferença que existe entre o comportamento homossexual como fenômeno privado, e o mesmo comportamento como relação social legalmente prevista e aprovada, a ponto de se tornar numa das instituições do ordenamento jurídico. O segundo fenômeno, não só é mais grave, mas assume uma relevância ainda mais vasta e profunda, e acabaria por introduzir alterações na inteira organização social, que se tornariam contrárias ao bem comum...” (7)
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(7) Parágrafo 6.
A igreja diz que ser homossexual trancado dentro de casa pode, mas expressar sua homossexualidade em público é proibido? Aqui existe um contra-senso.
Por outro lado, por tratar-se de restrição à direitos (de convivência entre homossexuais, e de proteção a estes conviventes), pergunto: quais são as “alterações na inteira organização social que se tornariam contrárias ao bem comum” e que seriam capaz de justificar a limitação do direito de liberdade dos homossexuais?
Segundo a opinião da Igreja
“....A legalização das uniões homossexuais acabaria, portanto, por ofuscar a percepção de alguns valores morais fundamentais e desvalorizar a instituição matrimonial” (8)
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(8) Parágrafo 6.
Mas isso não ocorreria necessariamente, uma vez que todo mal exemplo cai frente a uma boa educação.
Pelo parágrafo 7, a Igreja insiste, mais uma vez que a função do matrimônio é única e exclusivamente a procriação. Então por quê aceitar-se os casamentos dos que são incapazes de procriar? Existem fatores outros (e que são muito mais importantes) que a simples procriação: a convivência harmoniosa entre os cônjuges, a assistência recíproca, a amizade, o afeto, o amor. Por outro lado, também no parágrafo 7, a própria igreja aceita o fato de que as uniões homossexuais são capazes de, com ajuda da ciência, gerar filhos.
Segundo a Igreja:
“Como a experiência confirma, a falta da bipolaridade sexual cria obstáculos ao desenvolvimento normal das crianças eventualmente inseridas no interior dessas uniões. Falta-lhes, de fato, a experiência da maternidade ou paternidade. Inserir crianças nas uniões homossexuais através da adoção significa, na realidade, praticar a violência sobre essas crianças, no sentido que se aproveita do seu estado de fraqueza para introduzi-las em ambientes que não favorecem o seu pleno desenvolvimento humano. Não há dúvida que uma tal prática seria gravemente imoral e pôr-se-ia em aberta contradição com o princípio reconhecido também pela Convenção internacional da ONU sobre os direitos da criança, segundo o qual, o interesse superior a tutelar é sempre o da criança, que é a parte mais fraca e indefesa.” (9)
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(9) Parágrafo 7.
Mas com base em quais pesquisas a igreja afirma que a adoção por homossexuais “cria obstáculos ao desenvolvimento normal as crianças eventualmente inseridas no interior dessas uniões”? Existem estudos que dizem exatamente o contrário (10).
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(10) “Num pioneiro trabalho divulgado em publicação norte-americana ainda inédita entre nós (Emerging Issues In Child Psychiatry And The Law - edited by Diane H. Schetky, M.D., and Elissa P. Benedek, M.D. - Brunner/Mazel, Publishers - New York - 1985), e que tem por título Lesbian Mothers/Gay Fathers (Mães Lésbicas/Pais Gays), suas autoras (Donna J. Hutchens and Martha J. Kir Patrick) salientam que ‘um procedimento de guarda ou visitação que é baseado na orientação sexual dos pais cria um trauma emocional intenso, assim como problemas legais significativos. O sistema que decide, se é ou não concedido aos pais o direito de guarda ou visitação com as crianças é um sistema que geralmente reflete a homofobia da sociedade (grifei). Freqüentemente, juizes decidem como os interesses das crianças podem melhor ser servidos, a partir de estereótipos comuns na sociedade a respeito de lésbicas e gays. Há, portanto, um sério risco de que o pai ou mãe não será avaliado imparcial e objetivamente nos termos do desempenho do seu papel paterno ou materno, e o que servirá para os melhores interesses da criança’. Mais: ‘Quando um dos pais homossexual descobre que o outro pai tem tido relacionamento íntimo com o mesmo sexo, ele ou ela podem freqüentemente tentar limitar o desempenho do papel parental da mãe lésbica ou do pai gay’. Baseadas em pesquisas, sustentam as autoras que ‘todas as evidências que nós temos disponíveis até agora indicam que orientação sexual por si mesma não prediz status psicológico, mecanismos para enfrentar dificuldades, estilo de vida ou grau de estabilidade. A preponderância dos dados fez com que a Associação Americana de Pisiquiatria removesse a homossexualidade do ‘Manual Estatístico e Diagnóstico de Doenças Mentais’ em 1973. Os investigadores listados acima concordam que ‘indivíduos homossexuais são tão prováveis quanto os heterossexuais de adquirir os níveis de maturidade emocional e estabilidade necessários para vidas satisfatórias e responsáveis’. Abalando as visões socialmente estereotipadas acerca dos papéis desempenhados por pais/mães homossexuais, ressalta o trabalho que ‘a descoberta desses estudos mostra que mães lésbicas são muito diferentes do estereótipo de mulheres masculinizadas que odeiam os homens, sendo, ao contrário, muito semelhantes a suas correspondentes heterossexuais. As mães lésbicas estudadas tinham casado na mesma média de idade e pelas mesmas razões (isto é, amavam seus maridos e desejavam o casamento) que as heterossexuais. Tinham tido filhos porque os desejavam e na mens a média de idade como as heterossexuais. Mesmo a duração dos casamentos, que produziram as crianças estudadas, foi o mesmo em ambos os grupos heterossexuais e homossexuais, em várias pesquisas. [...] Sua identidade e modelos de amizade envolviam seu papel como mãe e esta identidade era a característica saliente em suas vidas. Para as mães lésbicas, tanto quanto para as mães heterossexuais, as preocupações mais importantes eram com os cuidados da criança, da casa, segurança financeira e cuidados médicos. [...] As mães lésbicas em estudo eram mais preocupadas do que as mães heterossexuais que suas crianças tenham uma figura masculina adequada em suas vidas. [...] Muitos estudos avaliaram as mães [...] e descobriram que há similaridade entre as mães lésbicas e heterossexuais em escala de feminilidade. esta idéia também sugere que mães lésbicas, não menos que as mães heterossexuais, são socialmente bem sucedidas em interesses e capacidades femininas e maternais. [...] Em resumo, nenhum estudo confirmou qualquer diferença no estilo de vida ou modelo dos pais entre mães lésbicas e mães heterossexuais’. Prosseguindo, e abordando agora a situação da criança posta sob os cuidados de pais/mães homossexuais, salientam as autoridades que ‘o receio doa tribunais que as crianças possam ser sexualmente molestadas, confundidas na identidade sexual ou na escolha do objeto, ou sofram estigmatizações, surgiu de suposições sem uma base de dados concreta. [...] Pelas medidas obtidas, nenhuma evidência é encontrada de dificuldade no desenvolvimento, perturbações de gênero sexual, ou desenvolvimento de homossexualidade na infância dessas crianças’.” [sic] (trechos da sentença de 1º instância do TJRS - MM Juiz de Direito Substituto Luiz Felipe Brasil Santos, processo nº 012890981497 - que concedeu a guarda de criança à mãe homossexual in “A sexualidade vista pelos tribunais” de Rodrigo da Cunha Pereira, págs. 157/158.)
E mais, quer dizer que deixar uma criança abandonada na rua, sem pai, sem mãe, sem carinho e sem afeto, é menos prejudicial que dar esta criança para um casal homossexual criar, dando-lhe amor, carinho, educação e assistência material e emocional?
Para a Igreja:
“...A conseqüência imediata e inevitável do reconhecimento legal das uniões homossexuais seria a redefinição do matrimônio, o qual se converteria numa instituição que, na sua essência legalmente reconhecida, perderia a referência essencial aos fatores ligados à heterossexualidade, como são, por exemplo, as funções procriadora e educadora...”. (11)
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(11) Parágrafo 8.
Porém, a própria Igreja entra em contradição, uma vez que a função procriadora foi expressamente aceita pela Igreja no parágrafo 7 do mesmo documento, que afirma ser possível aos homossexuais “...a eventual utilização dos meios postos à sua disposição pelas recentes descobertas no campo da fecundação artificial...”
Por outro lado, quanto a educação que deveria ser dada às crianças, esta é perfeitamente compatível com a homossexualidade.
No parágrafo 8, afirma a Igreja que
“.... Se, do ponto de vista legal, o matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente for considerado apenas como um dos matrimônio possíveis, o conceito de matrimônio sofrerá uma alteração radical, com grave prejuízo para o bem comum. Colocando a união homossexual num plano jurídico análogo ao do matrimônio ou da família, o Estado comporta-se de modo arbitrário e entra em contradição com os próprios deveres”
Que haveria uma alteração no conceito de matrimônio, é óbvio (e qual seria o eventual problema causado por uma revisão do conceito de matrimônio?). Mas repito minha pergunta anterior: onde está o mal que seria causado à sociedade?
Pouco adiante, ainda no parágrafo 8, o documento afirma que:
“...Não atribuir o estatuto social e jurídico de matrimônio a formas de vida que não são nem podem ser matrimoniais, não é contra a justiça; antes, é uma sua exigência.”
Se a própria igreja aceita que o “reconhecimento legal das uniões homossexuais seria a redefinição do matrimônio”, então solucionado está o problema. As uniões homossexuais não se encaixam no atual conceito de matrimônio, mas poderia se encaixar num novo conceito de matrimônio. Mude-se o conceito de matrimônio...
A Igreja ainda afirma que:
“Nem tão pouco se pode razoavelmente invocar o princípio da justa autonomia pessoal. Uma coisa é todo o cidadão poder realizar livremente atividades do seu interesse, e que essas atividades que reentrem genericamente nos comuns direitos civis de liberdade, e outra muito diferente é que atividades que não representam um significativo e positivo contributo para o desenvolvimento da pessoa e da sociedade possam receber do Estado um reconhecimento legal especifico e qualificado. As uniões homossexuais não desempenham, nem mesmo em sentido analógico remoto, as funções pelas quais o matrimônio e a família merecem um reconhecimento específico e qualificado. Há, pelo contrário, razões válidas para afirmar que tais uniões são nocivas a um reto progresso da sociedade humana, sobretudo se aumentasse a sua efetiva incidência sobre o tecido social” (12)
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(12) Parágrafo 8.
É claro que o reconhecimento das uniões homossexuais representam um imenso, “significativo e positivo contributo para o desenvolvimento da pessoa”, ao menos sob o ponto de vista psicológico dos envolvidos.
Quanto à analogia não reconhecida pela Igreja, esta reside no AFETO, no AMOR, e no DESEJO DE CONVIVÊNCIA. Todos presentes tanto nas relações hetero, quanto nas relações homossexuais.
Por outro lado, novamente aparece aquela pergunta: quais as “razões válidas para afirmar que tais uniões são nocivas a um reto progresso da sociedade humana”?
A Igreja, erroneamente, afirma que
“Não é verdadeira a argumentação, segundo a qual, o reconhecimento legal das uniões homossexuais tornar-se-ia necessário para evitar que os conviventes homossexuais viessem a perder, pelo simples fato de conviverem, o efetivo reconhecimento dos direitos comuns que gozam enquanto pessoas e enquanto cidadãos. Na realidade, eles podem sempre recorrer – como todos os cidadãos e a partir da sua autonomia privada – ao direito comum para tutelar situações jurídicas de interesse recíproco. Constitui porém uma grave injustiça sacrificar o bem comum e o recto direito de família a pretexto de bens que podem e devem ser garantidos por vias não nocivas à generalidade do corpo social.” (13)
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(13) Parágrafo 9.
Todo aquele que convive com o Ordenamento Jurídico sabe que existem Direitos sagrados que são válidos apenas ao casamento (ou união heterossexual): instituição do bem de família; inscrição do cônjuge como dependente: em planos de saúde, clubes recreativos, imposto de renda; além de pensões por morte do companheiro (este direito já é aceito no Brasil)...
E, mais uma vez eu volto a perguntar: por que a união homossexual é “nociva ao bem comum” e ao “recto direito de família”?
No parágrafo 10, a Igreja prega, aos políticos católicos que:
“...trata-se, pelo contrário, da tentativa legítima e obrigatória de proceder à revogação, pelo menos parcial, de uma lei injusta, quando a revogação total não é por enquanto possível”
Todos aqueles que lidam com a temática dos Direitos Humanos (e aqui afirmo que o direito à união homossexual é questão de Direitos Humanos), sabe que é impossível voltar-se atrás em matéria de leis que garantem (ou que ao menos procurem garantir) os Direitos Humanos.
No parágrafo 11 a Igreja contraria todo e qualquer ensinamento Bíblico, pregando o preconceito para com os homossexuais,:
“A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual...”
Ainda no parágrafo 11, a Igreja afirma que
“....Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimónio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade actual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do património comum da humanidade...”
Aqui a Igreja utiliza-se daquilo que os estudiosos da lógica chamam de argumento à contrário, o qual, sob o ponto de vista da lógica é absolutamente inconcebível, pois aceitar-se a união homossexual não significa negar o valor do matrimônio heterossexual.
Não se deve esquecer que a Igreja Católica não é nenhum exemplo de vida para ninguém, uma vez que:
“Com uma cruz na mão esquerda e um espada na mão direita, reis e conquistadores, que se proclamavam defensores e guardiães da Fé Cristã, reduziram povos à escravidão, destruíram civilizações, pisotearam a pessoa humana.” (14)
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(14) João Baptista Herkenhoff, in Gênese dos Direitos Humanos, pág. 50.
É necessário lembrar que a Igreja, durante a Idade Média, sempre favoreceu os reis, afirmando que a condição de ter nascido rei era escolha de Deus, e que, assim, o rei seria representante da vontade divina na Terra, tornando sua palavra lei obrigatória.
E porquê? Apenas para garantir riqueza e poder para o clero. Riqueza esta que existe até os dias de hoje dentro da Igreja Católica. Em todos os lugares do mundo (inclusive no Brasil, sobretudo em Ouro Preto/MG) existem inúmeras Igrejas com adornos de ouro e pedras preciosas. Se a Igreja se importasse (como quer parecer se importar) com a vontade de Deus, então eu pergunto: O que é que todo este ouro ainda faz dentro da Igreja? Porquê a Igreja ainda não repartiu o “pão” com aqueles que “têm fome”? Se a Igreja defende as idéias da Bíblia, porque não defende a humildade dos padres, bispos e demais membros da Igreja Católica? Por que não doa todo aquele ouro inútil aos pobres do mundo?
Por outro lado, a Igreja condena o casamento de padres e membros da Igreja. Porquê? Apenas para que, não se casando, os padres não tenham herdeiros para repartir todo o ouro da Igreja. Para manter seu dinheiro e seu nível de vida, com carros na garagem, viagens pelo mundo, comida e bebida farta... Não conheço nenhuma passagem Bíblica que justifique a proibição de matrimônio entre os membros da Igreja.
E, condenando o casamento dos membros da Igreja, pregando a castidade, o que tem-se visto é escândalos, atrás de escândalos, sobre abuso sexual de padres, praticados principalmente contra crianças ingênuas e indefesas...
E, apesar de tudo isso, a Igreja se acha no direito de condenar as uniões homossexuais que não prejudicam ninguém, e que buscam apenas a felicidade das pessoas, felicidade esta que é o maior ensinamento Bíblico...
Talvez por tudo isso é que:
“O Grupo Gay da Bahia (GGB) conclamou hoje que os homossexuais do Brasil renunciem à Igreja Católica. O pedido foi anunciado por Marcelo Cerqueira, presidente da entidade, que publicará os endereços das principais arquidioceses do País para que os homossexuais possam pedir a revogação de seu batismo.
A medida é um protesto contra a decisão do Vaticano de condenar a união entre pessoas do mesmo sexo, informou a GloboNews.” (15)
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(15) Fonte: http://noticias.correioweb.com.br/ultima.htm?ultima=33516 - 01/08/2003 - 00:55
Atitude esta que revela a descrença na Igreja que, ao invés de lutar pela diminuição da intolerância, prega o preconceito para com os homossexuais, afirmando, contra os estudos científicos, que a homossexualidade é uma doença que deve ser curada, quando na verdade, sabe-se que a homossexualidade não é, de forma alguma, uma característica exclusiva da espécie humana, estando presente também entre os animais. Segundo o cientista inglês George V. Hamilton, a homossexualidade está presente não só entre os primatas, mas também em inúmeros animais mamíferos.(16)
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(16) Fernanda de Almeida Brito, União afetiva entre homossexuais e seus aspectos jurídicos, pág. 48.
Conforme reportagem da revista Superinteressante de agosto de 1999, o biólogo americano Bruce Bagemihl, em seu livro Exuberância Biológica - Homossexualidade Animal e Diversidade Natural, lançado naquele mesmo ano, apresentou provas mais do que convincentes e irrefutáveis de que existe homossexualidade e vasta diversidade de comportamentos sexuais entre os animais de diversas espécies.
Não é possível dizer-se que a homossexualidade seja contra a vontade de Deus, pois, neste caso, porque os animais, das mais diversas espécies, têm comportamentos homossexuais? Ou será que foram os seres humanos que os ensinaram a homossexualidade?
Por outro lado, Victor Ricardo Soto Orellana, pastor evangélico, fundador a Igreja Acalanto, que acredita que a homossexualidade deva ser discutida por toda a sociedade, e que chegou a realizar o casamento de dois amigos homossexuais que lhe pediram a bênção, afirma, com relação à passagem de Levítico, 18:22, que:
“O termo toevah, traduzido por ‘abominação’, indica na verdade uma impureza ritual, não algo intrinsecamente mau. Essa proibição está no mesmo nível do veto a comer camarão, ostra e carne de porco. A Lei de Moisés está repleta de conceitos arcaicos. Ela admite a poligamia, manda apedrejar té a morte homem e mulher adúlteros e ordena que o homem, mesmo se for casado, case com a mulher de seu falecido irmão quando ela ficar viúva. Ainda proíbe o uso de roupas com dois tipos de tecido e até mesmo misturar carne com leite - ou seja, bife à parmegiana era pecado. essa lei contém uma irracionalidade que só poderia ser entendida no contexto em que foi escrita, séculos antes de Cristo. Ela visava exclusivamente ao povo judeu daquele tempo. Israel foi criada para ser uma nação com um código moral diferente do das outras nações, uma nação sacerdotal.” (17)
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(17) Entrevista concedida à revista Época de 31 de março de 2003.
O mesmo pastor, quando perguntado sobre a passagem do apóstolo Paulo segundo a qual “os injustos não herdarão o reino de Deus”, afirma que:
“Há um disparate da tradução, que se aproveitou de uma falsa equivalência entre os termos atuais e os que eram usados naquele tempo. Paulo criticava os romanos por sua libertinagem e chamava-os de ‘doces’ e ‘macios’, apenas. A palavra homossexual foi cunhada no fim do século XIX, e não tem nada a ver com o que se pensava no século I a respeito das relações entre homens. Paulo pensava em homens originalmente afeiçoados às mulheres, mas que se engajavam no pan-sexualismo romano, praticando a libertinagem em todas as suas formas. Paulo não tinha em mente o homossexual como se conhece atualmente, alguém que tem uma vida afetiva com uma pessoa do mesmo sexo. Portanto, não é correto transpor para os dias de hoje aquela advertência.” (18)
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(18) Entrevista concedida à revista Época de 31 de março de 2003.
“O que é que a Bíblia realmente diz sobre os homossexuais? Se acreditarmos no que a maioria dos cristãos fundamentalistas dizem, os gays e as lésbicas irão acabar no inferno por causa dos seus pecados contra Deus-Todo-Poderoso. Mas, surpreendentemente, há poucas passagens na Bíblia que falam de atos homossexuais e geralmente trata-se de atos entre membros do sexo masculino. De acordo com os investigadores contemporâneos, Jesus preocupou-se muito pouco com os homossexuais e há um certo número de histórias bíblicas que mostram uma grande simpatia em relação às relações próximas ou íntimas entre membros do mesmo sexo. Aparentemente, os homossexuais eram mais bem aceites nos tempos antigos do que agora, no nosso presente ‘civilizado’, onde é recomendável manter as relações entre pessoas do mesmo sexo em segredo. Hoje em dia, os fundamentalistas e a Igreja Católica alimentam-se dos nossos preconceitos modernos contra os homossexuais. Um dos livros mais acessíveis a propósito desta controvérsia teológica é What the Bible Really Says About Homosexuality (Alamo Square Press, 1994) por Daniel Helminiak, um padre católico. Esta obra pioneira de 119 páginas é ideal para refutar definitivamente esta comum e antiga afirmação: ‘A Bíblia condena a homossexualidade. Está escrito preto no branco’. Na realidade, chegamos à conclusão que a verdade é justamente o oposto. Helminiak concluiu que as investigações bíblicas mais recentes mostram que ‘A Bíblia é basicamente indiferente em relação à homossexualidade em si. A Bíblia preocupa-se somente, tal como com a heterossexualidade, com as práticas que violam outros requisitos morais’. Também é importante chamar a atenção para o fato de a homossexualidade, e a orientação sexual em geral, ser um conceito psicológico muito recente. A Bíblia nalgumas passagens fala de atos específicos entre membros do mesmo sexo. E Jesus nunca falou realmente sobre o assunto. Indo mais longe, é importante realçar que todas estas histórias bíblicas têm um objetivo: uma lição moral sobre a fé e a compaixão. Duas passagens que são usadas para condenar os homossexuais masculinos são a história de Sodoma e Levítico 18, 22 e 20, 13. Estas passagens bíblicas mencionam relações sexuais entre homens para tentar transmitir uma mensagem mais abrangente. Mensagem esta que foi perdida na ânsia precipitada de condenar os homossexuais. A história de Sodoma fala, na verdade, da obrigação de mostrar hospitalidade para com os desconhecidos. Esta história, que pode ser encontrada no Livro do Gênesis, conta que Lot é visitado por dois anjos, os quais convida para passarem a noite em sua casa. Contudo, os homens de Sodoma cercam a casa de Lot, exigindo saber quem são os forasteiros. Eles ameaçam arrombar a porta de Lot para apanhar os visitantes. Então os anjos, utilizando os seus poderes sobrenaturais, cegam os invasores para que não possam entrar na casa. Lot mais tarde foge de Sodoma, segundo o conselho dos anjos, antes de Deus destruir Sodoma através de uma chuva de fogo e enxofre. Durante séculos esta história tem sido utilizada contra gays e lésbicas, que têm sido tratados como marginais pelo mainstream da sociedade. ‘Tal opressão é exatamente o pecado que as pessoas de Sodoma cometeram’, afirma Helminiak. As passagens do Levítico denunciam, superficialmente, relações sexuais entre homens e o castigo apresentado é severo. Em Levítico 20,13 é dito: ‘Se um homem se deitar com um homem, como se deita com uma mulher, ele deve ser morto, o seu sangue deve ser derramado’. Mas antes das pessoas perdoarem o apedrejamento dos homossexuais, deve-se chamar a atenção que o Livro do Levítico é sobre o Código Sagrado e o tipo de comportamentos que deviam separar e distinguir os Judeus dos Gentios. Os atos homossexuais que eram condenados eram praticados na altura em rituais de religiões pagãs, religiões das quais os Judeus queriam destacar-se. Também é importante ficar claro o que é uma ‘abominação’. De acordo com a explicação de Helminiak, abominação quer dizer ‘sujo’. ‘Os antigos Israelitas achavam que [a homossexualidade] era suja. Era proibida não porque era errado em si, mas porque ofendia sensibilidades [religiosas]’. Mais tarde, muitas das regras do Código Sagrado deixaram de ser praticadas por muitos dos primeiros cristãos, que se preocupavam mais em serem virtuosos e em descobrir a pureza do coração. Para todas as admoestações que os fundamentalistas e outros fazem afirmando que a Bíblia condena os homossexuais, só há cinco passagens bíblicas que mencionam atos sexuais entre homens. Não há referências explícitas em relação ao sexo entre mulheres. ‘A Bíblia não toma nenhuma posição clara e direta a propósito da moralidade dos atos [homossexuais] em si ou acerca da moralidade das relações gay e lésbicas’, concluí Helminiak. Contudo, há ensinamentos-chave que podem guiar os gays e as lésbicas: a oração, a veneração a Deus, o respeito, o amor e a misericórdia para com os outros e a justiça. ‘Fazer isto é amar a Deus com a tua alma e coração. Fazer isto é ser um verdadeiro discípulo de Jesus’.” (19)
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(19) www.homofobia.com.sapo.pt - 12/04/2002 - 10:50 - Os Fundamentalistas estão Errados, Por Robert Nixon - Traduzido e adaptado de "Jerry Has It Wrong" © New Mass Media. Inc. in
http://www.fairfieldweekly.com/articles/gayclergy.html
“Nenhum argumento religioso contra a homossexualidade sobrevive a uma análise crítica. Qualquer motivo religioso padrão não é mais do que ficção, fruto de convicções cegas. O ‘argumento’ é somente uma preferência pessoal, uma posição apoiada por uma ‘escolha’ e não por ‘argumentos racionais’. A Religião é, assim, uma máscara usada para encobrir o preconceito. A Bíblia NÃO condena a homossexualidade. As investigações científicas mais recentes demonstraram e denunciaram erros de tradução e de interpretação nas passagens que dizem respeito à homossexualidade. A maioria define claramente, como por exemplo em Ezequiel 16, 48-49 e no Livro da Sabedoria 9, 13-14, qual foi o pecado de Sodoma (Gênesis 19): orgulho, ódio, abuso, dureza de coração. Sexo nunca é mencionado. Também o termo ‘não natural’, por exemplo, que encontramos na Carta aos Romanos 1, 28-29 devia ter sido traduzido pelos termos ‘atípico’ ou ‘não convencional’. A Bíblia, se lida em coerência com os seus próprios termos e contexto, não apresenta nenhuma condenação explícita dos atos homossexuais. Ver D. A. Helminiak, What the Bible Really Says About Homossexuality, Alamo Press, 1994. O Cristianismo NÃO se opôs sempre à homossexualidade. Até cerca de 1200, exceto no período por volta da altura da queda do Império Romano, a homossexualidade era, em geral, aceite na Europa cristã. No século VII, na Espanha Visigoda, uma série de seis conselhos nacionais da Igreja recusaram-se a apoiar a legislação do soberano contra atos homossexuais. No século IX códigos penais extensos por toda a Europa tratavam de questões sexuais detalhadamente, mas nenhum fora de Espanha proibia atos homossexuais. Pela altura da Alta Idade Média existia uma sub-cultura gay emergente e um corpo de literatura gay padrão estudada nas Universidades dirigidas pela Igreja. Ver J. Boswell em Christianity, Social Tolerance and Homosexuality, University Chicago Press, 1980. Na prática da Igreja, procriação NÃO é essencial para ter relações sexuais. A filosofia estóica defendia que a concepção de bebês era a única razão eticamente aceitável para ter relações sexuais. O Cristianismo desde cedo incorporou esta noção na sua doutrina e algumas igrejas invocam-na para condenar a homossexualidade. Contudo, muitas destas igrejas permitem o uso de contraceptivos e permitem o casamento (e relações sexuais) entre casais que sabem serem estéreis ou entre casais que já ultrapassaram a idade para procriar. Até mesmo a Igreja Católica enfatizou recentemente a importância da união emocional e da partilha do amor como centrais para a intimidade sexual. Evidentemente, as igrejas não acreditam que a única e principal razão para a intimidade sexual é a procriação. O argumento da ‘complementaridade’ NÃO é coerente. Supostamente a complementaridade dos sexos é um requisição estabelecida por Deus para os relacionamentos sexuais. Mas a ‘masculinidade’ e ‘feminilidade’ são estereótipos. Na realidade, as características da personalidade das pessoas são mistas e abrangem tanto a esfera do masculino e como a esfera do feminino. Quaisquer duas pessoas, heterossexuais ou homossexuais, podem facilmente qualificar-se como complementares nalgumas características psicológicas, ou noutras. Deste modo, a complementaridade em questão só pode ser biológica. Ora, apelar à complementaridade é só uma maneira de dizer que só uma mulher e um homem podem partilhar a intimidade sexual. Logo, o verdadeiro argumento é este: as relações sexuais homossexuais são erradas porque sexo entre um homem e uma mulher é que está certo; casais homossexuais não podem partilhar nenhuma intimidade sexual porque não são heterossexuais. O argumento não explica nada, é circular, a verdadeira questão fica por responder. Indo um pouco mais longe, o argumento da complementaridade afirma que o único ato sexual permissível é a relação sexual entre pênis e vagina, mas não apresenta nenhuma razão para esta afirmação (na qual poucos acreditam, de qualquer modo). A homossexualidade NÃO é uma doença. A Religião afirma que a homossexualidade é uma aberração em relação à ordem da criação de Deus. Contudo, a maioria das investigações científicas - zoológica, médica, psicológica, sociológica e antropológica - mostram que a homossexualidade é uma variante normal. Não só é provavelmente em muitas espécies animais, como nos humanos a homossexualidade tem uma base biológica, é fixada no início da infância e presente em praticamente todas as culturas conhecidas. Não há nenhuma prova credível de que a orientação sexual pode - ou deve - ser modificada. A não ser que ser simplesmente homossexual em si venha a ser considerado como uma patologia com que se nasce, a ciência atual não é capaz de detectar nada de ‘doente’ na homossexualidade e considera-a parte do mundo que Deus criou. Os homossexuais NÃO são irreligiosos. Muitas pessoas condenam os homossexuais afirmando que são contra Deus e pecadores, mas os homossexuais cristãos contemporâneos reconhecem a sua auto-aceitação como fruto da graça de Deus. Eles testemunham que desde que ‘se assumiram’ sentem-se mais felizes, mais saudáveis, mais produtivos, mais afetuosos, mais em paz, mais alegres e mais próximos das outras pessoas - e mais próximos de Deus. De acordo com o critério de Jesus ‘Pelos seus frutos os reconhecerás’ (Mateus 7, 16) os homossexuais cristãos devem ser verdadeiros profetas do nosso tempo. Pelo contrário, colocar a tônica nos piores elementos e exemplos da comunidade homossexual - ou heterossexual - é uma maneira injusta de avaliar a questão.” (20)
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(20) www.homofobia.com.sapo.pt - 12/04/2002 - 10:50 - Argumentos Religiosos contra a Homossexualidade? Por Prof. Dr. Daniel Helminiak - Traduzido de "Religious Arguments Against Homosexuality" in
http://www.visionsofdaniel.com
“Estudos mais elaborados revelam que a Bíblia realmente possui boas novas para gays e lésbicas. A Bíblia não diz o que você pensa que ela diz sobre os homossexuais. Entenda a Bíblia de uma Nova Maneira. Existem duas coisas importantes que você precisa ter em mente quando for ler a bíblia. Primeiro, você deve sempre considerar o contexto. Para entender qualquer escrito (mesmo que seja uma carta, um discurso, ou mesmo a bíblia) é necessário entender o seu cenário. Pense sobre quem está falando, para quem está sendo endereçada a fala, por que foi escrita, como era a cultura na época. No caso de escritura, o contexto social e cultural dos tempos bíblicos era muito diferente do nosso contexto atual. Por exemplo, quando Deus ordena para a humanidade ‘crescer e multiplicar’, lembre-se de que, entre outras coisas, isso foi endereçado para Israel - uma pequena nação que vivia no deserto, cercada de muitos inimigos. Eles necessitavam ‘multiplicar’ somente para sobreviver. Segundo, a Bíblia começou com uma tradição oral e, posteriormente, foi transcrita em línguas antigas (basicamente o hebraico no Velho Testamento e o grego no Novo Testamento) durante vários séculos. Ela foi copiada e recopiada nas línguas originais e depois traduzida em outras línguas. Qualquer pessoa que fala ou lê em mais de uma língua sabe que traduzir requer interpretação e julgamento pessoal. Mesmo com as melhores intenções, tradutores e copistas podem cometer erros [...] A Bíblia Hebraica conta de maneira épica a saga de um povo, através dos seus muitos livros e escritos. Foi a Escritura que Jesus conheceu e estudou. Para os cristãos, continua a servir como o princípio da história da fé. O Velho Testamento contém algumas das citações mais utilizadas contra gays e lésbicas. Qual foi o pecado de Sodoma em Gênesis 19:1-28? Essa passagem é freqüentemente usada como ‘prova bíblica’ de que Deus se desagrada com os homossexuais. Para muitas pessoas essas cidades foram destruídas porque os habitantes cometeram o ‘pecado do homossexualismo’. Isso é interpretar mal e errado as Escrituras. O profeta Ezequiel, em um livro igualmente inspirado da Bíblia, conta que Deus estava desgostoso com Sodoma por outra razão. De fato, Deus a destruiu porque os sodomitas eram arrogantes, opulentos e irresponsáveis e não ajudavam os pobres e necessitados. ‘E se ensoberbeceram, e fizeram abominação diante de mim; pelo que as tirei dali, vendo eu isto.’ Ou seja, cometeram idolatria. (Ezequiel 16:50). Em todas as outras citações da bíblia (e existem muitas) o condenado ‘pecado de Sodoma’ são coisas como o orgulho e a inospitalidade. A cidade de Sodoma transgrediu a lei da hospitalidade, lei que era religiosamente observada em sua cultura. O uso da expressão ‘trazei esses homens a nós, para que os conheçamos’ (Gênesis 19:5) é a base da maioria das interpretação erradas. O verbo hebreu ‘yadha’ (conhecer) utilizado aqui é encontrado 943 vezes no Velho Testamento e somente em dez casos significa relação sexual (sempre se referindo a relações heterossexuais). Mesmo que os homens de Sodoma tenham realmente tentado seduzir os anjos, a passagem serviria como uma clara condenação do estupro (certamente uma forma estremada de inospitalidade). O estupro - tanto homossexual quanto heterossexual - é que é um pecado. ‘Deus criou Adão e Eva não Adão e Pedro’ é um refrão conhecido daqueles que rejeitam citações. Gênesis 1 e 2 são interpretados como condenação da homossexualidade porque ela não é citada. Esse argumento do silêncio é difícil de sustentar. Primeiro: Eva foi criada não apenas para reprodução sexual, mas também para fazer companhia (Gen. 2:18). Estar acompanhado é certamente a base da maioria das relações amorosas, tanto homossexuais quanto heterossexuais. Além disso, o texto sobre a criação e as estórias anteriores do Gênesis são uma explicação, não uma prescrição. Tomar essas estórias de maneira literal como forma de se proceder conduziria a conclusões peculiares. Por exemplo, implicaria que irmãos só poderiam casar com irmãs. Caso contrário, como poderiam os filhos de Adão e Eva terem se multiplicado? Utilizar a Escrituras dessa maneira, levanta mais questões do que responde. Outros textos do velho Testamento são utilizadas seletivamente para mostrar que a Bíblia condena o estilo de vida gay. Duas citações são encontradas no livro do Levítico, 18:22 e 20:13: ‘Com varão não te deitarás como se fosse mulher’. Qualquer um que cite essa passagem como uma proibição, deveria ler o capítulo inteiro. A lei do Levítico condena carne de porco, lagosta, camarão, ostras, não cruzamento de raças de gados, e todo um elenco de outras leis, incluindo uma lei para matar todas as pessoas que cometam adultério! Por que, então, uma lei deve ser cumprida e outra, não? [...] Qual é a mensagem fundamental da Bíblia e do Evangelho de Jesus Cristo? Como cristãos, nós acreditamos que a escritura hebraica é a revelação inspirada dos compromissos de Deus para com o seu povo. Também constitui-se em um importante estudo da história hebraica. Acima de tudo, é parte da continuação de uma história e uma promessa de redenção. Além disso, como Cristãos, nossa lei é a de Cristo e essa lei é a lei do amor. Seu fundamento é o mandamento ‘ame a Deus e o próximo como a si mesmo’. Nem Jesus, nem Paulo, nem ninguém mais do Novo Testamento diz que os Cristãos estão presos às regras éticas da lei de Moisés. Paulo ensinou claramente que os Cristãos não estão mais sob a lei do Velho Testamento (Gálatas 3:23-25). Ensinou também que a velha lei é complementada em Cristo (Romanos 10:4) e que sua realização se cumpre no amor (Romanos 13:8-10, Gálatas 5:14). Jesus verdadeiramente lidou com a sexualidade humana de uma maneira aberta e com aceitação. Por uma lado ele afirmou as virtudes do casamento, mas por outro também declarou que o casamento não é para todas as pessoas (Mateus 19:3-12). Por fim, a Bíblia não possui registrado nenhuma palavra falada por Jesus condenando a homossexualidade [...] No novo testamento existem três expressões freqüentemente citadas como provas do ‘pecado da homossexualidade’. Existem várias traduções diferentes da Bíblia e cada uma delas utiliza palavras diferentes para traduzir trechos do grego antigo. Portanto algumas palavras dependem de qual tradução se está usando. Duas palavras gregas são utilizadas por Paulo em duas passagens similares. São elas ‘malakos’ e ‘arsenokoitai’. Essas palavras são utilizadas em Corintios 6:10 e em Timóteo 1:10. Traduzido ao pé da letra, ‘malakos’ significava ‘suavidade’ (e não efeminado!) e ‘arsenokoitai’ significava ‘leito-masculino’. Nenhuma das palavras significa ‘homossexual’ no grego falado na época de Paulo. Infelizmente, os estudiosos da Bíblia não concordam sobre o que essas palavras realmente significavam no contexto dessas duas passagens ou para as pessoas para as quais Paulo escreveu. Há várias palavras gregas para ‘atividades do mesmo sexo’ ou ‘homossexuais’, mas Paulo não as empregou. A tradução do Rei James (Corintios 6:10) fala em ‘efeminados’, a Nova Internacional diz ‘ofensores homossexuais’, a Revised Standard diz ‘pervertidos sexuais’ e a tradução de João Ferreira de Almeida optou por ‘sodomitas’. Qual versão é a mais próxima do texto original já que as palavras empregadas na época não significavam ‘homossexual’? É estranho que alguns pastores condenem gays, lésbicas, bissexuais, etc., quando estudiosos e diferentes traduções da bíblia nem mesmo concordam sobre o que algumas palavras verdadeiramente significam! A terceira passagem do Novo Testamento freqüentemente citada é Romanos 1:26-27, que diz: ‘Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Por que até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.’ Essa passagem realmente condena pessoas que são ‘naturalmente’ ou ‘constitucionalmente’ homossexuais? Ela diz especificamente que heterossexuais não devem tentar tornar-se homossexuais. Ela também poderia ser entendida como querendo dizer que gays e lésbicas não devem tentar tornar-se heterossexuais. Ou seja, para o hétero é natural ter relações com pessoas do sexo oposto; e para o gay é natural ter relações com pessoas do mesmo sexo. John McNeill, um estudioso Católico, diz que existe ampla evidência de que, para os autores bíblicos, ‘perversão’ era submeter à atividade homossexual aqueles que eram, por natureza, heterossexuais. Contudo, os autores desconheciam a noção de homossexualidade bem como a de heterossexualidade. Na verdade, o significado de ‘natureza’ que eles possuíam era outro. Paulo declara, por exemplo, que cabelos cumpridos não é natural para homens (I Corintios 11:14), pois acreditava que a ‘natureza’ refletia características esperadas ou normas culturais. Não tem nada a ver com não a crença moderna em ciência universal ou ‘leis da natureza’ biológicas, como pregam atualmente alguns pastores homofóbicos. ‘Eu sei e sou ensinado pelo Senhor Jesus que nada é impuro por si mesmo; mas é impuro para qualquer um que pense que seja impuro’ (Romanos 14:14, versão ‘Revised Standard’) ou que negue a sua importância na vida Cristã. [...] A Bíblia tem muito para nos dizer, mas nós devemos ouvir e aprender o que ela verdadeiramente nos diz, não o que alguém nos diz que ela diz - ou seja, as pessoas que a traduziram, e as pessoas que a interpretaram. As pessoas são capazes de cometer erros e construir doutrinas que a Bíblia não ensina, mas que são aceitas por outros. Podemos verdadeiramente acreditar que um Cristo que pregou o amor, viveu o amor (com mulheres, estrangeiros, pecadores e marginais), que deu a sua vida na cruz para mostrar o amor de Deus para com todos pudesse nos excluir? Podemos acreditar que Ele, que reconhece a necessidade humana de amar e de expressar esse amor fisicamente, iria determinar que milhares de homossexuais vivessem no celibato, negando as particularidades de cada um, suas necessidades naturais e condenando-os à infelicidade? Certamente o Cristo de amor jamais faria tal coisa! Jesus morreu pelos nossas falhas, não pela nossa sexualidade. Jesus nos libertou para vivermos uma nova vida de amor em Deus. Tanto o amor heterossexual quanto o homossexual não são pecados por si só. O ato sexual torna-se um falha ética quando abusa ou violenta a outra pessoa. A relação entre dois homens ou duas mulheres pode ser uma relação de amor tanto quanto a relação entre um homem e uma mulher. Cristo morreu pelas falhas de indivíduos heterossexuais e homossexuais. Portanto, gays e lésbicas podem livremente vir para a Comunidade Cristã e ainda preservar a autenticidade de sua expressão sexual.” (21)
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(21) http://www.soulfoodministry.org/docs/Portuguese/Por_BibleHomo.htm 12/04/2002, 11:10 Homossexualidade e a Bíblia - Por Fraternidade Universal das Igrejas Comunitárias Metropolitanas. Tradução por A. J. Irish
Cabe, também, ressaltar que:
“Os homossexuais sofrem discriminação em virtude de atitudes hostis da sociedade que, infelizmente, muitas vezes são ensinadas na igreja. A Palavra de Deus é normalmente usada como arma para banir os gays. Na verdade tais atitudes ofensivas jamais refletiram ao Senhor Jesus Cristo e a forma como Deus quer que seja a sua Igreja. Este tipo de discriminação é obra de seres humanos falíveis e imperfeitos que guiam certas igrejas. A fé pessoal em Cristo jamais deve depender de uma igreja particular, mas deve ser solidamente colocada no Senhor Jesus Cristo. A adição do ensinamento preconceituoso de alguns ministérios faz com que as escrituras se apresentem como uma “pedra no caminho” para pessoas que são cristãs e homossexuais ao mesmo tempo. Um estudo bíblico atencioso revela que a Bíblia possui boas novas para os gays não refletindo o que você muitas vezes é levado a pensar sobre a questão da homossexualidade. Ao fazer essas observações, nos não estamos tentando desprestigiar a Bíblia, ou negar a autoridade de sua inspiração ou importância da vida cristã. Pelo contrário, nós afirmamos que a bíblia tem muito mais a dizer para nós, mas nós devemos ouvir e aprender o que realmente diz, não o que dizem as pessoas que a interpretam erroneamente. As pessoas são capazes de cometer erros e construir doutrinas que a Bíblia não ensina, mas que são aceitas por outros. Pode alguém crer que um Cristo que pregou o amor, viveu o amor (com mulheres, estrangeiros, pecadores e marginais), que deu a sua vida na cruz para mostrar o amor de Deus para com todos, pudesse excluir alguém da sua salvação? Poder-se-á crer em um Cristo amável, que reconhece as necessidades humanas de amar e ser amado e de ter satisfação física, iria requerer que milhares de homossexuais vivessem uma vida de celibato, negando sua necessidade natural de intimidade, ou condenando-os? A bíblia está baseada no amor de Cristo. Jesus morreu pelos nossos pecados, não pela nossa sexualidade. Jesus nos libertou para uma nova vida de amor em Deus. Nem o amor heterossexual quanto o homossexual são pecados por si só. O ato sexual torna-se pecado quando explora ou abusa de outra pessoa, abandonando os caminhos do amor. A relação entre dois homens ou duas mulheres pode ser uma relação de amor tanto quanto a relação entre um homem e uma mulher. Cristo morreu pelos pecados de ambos os indivíduos heterossexuais e homossexuais. Portanto, gays e lésbicas podem livremente viver na graça de Jesus Cristo e ainda ter sua identidade e autenticidade de expressão sexual. A interpretação bíblica e teológica também muda de tempo em tempo. Há aproximadamente 150 anos nos Estados Unidos da América, alguns cristãos ensinavam que existiam duas castas de ordem moral: negros e brancos. Os brancos ensinavam serem superiores aos negros, e ainda que os negros deviam ser submissos e escravos sendo esta uma instituição ordena por Deus. O Clero que não suportou a tal idéia tendo-a como odiosa reclamou pela autoridade da bíblia. O conflito dos lideres escravos em cima dessa divisão deu nascimento a uma das maiores denominações cristãs nos Estados Unidos. E atualmente as mesmas denominações que pregavam a segregação, hoje não suportam a escravidão. A Bíblia mudou? A resposta e não, as interpretações bíblicas que mudaram. Qual tipo de influência nos direciona a modos novos de entender as escrituras? Novas conclusões científicas, mudanças sociais e experiências pessoais são capazes de nos levar a um novo modo de interpretação bíblica e desenvolvimento da nossa fé. É notório que consciência científica de orientação homossexual atual não existia até o século dezenove. A maior parte das igrejas cristãs, inclusive a Igreja Comunitária Metropolitana, acredita que a bíblia foi divinamente inspirada e é a fonte de autoridade para a fé cristã. Portanto, o que a Bíblia ensina com alguma subjetividade, incluindo a sexualidade, é de grande significância. O problema é que certas atitudes direcionadas de líderes sobre pormenores retirados de um outro contexto se tornam determinantes em relação a verdade bíblica sendo então lidas como a declaração bíblica. LENDO A BÍBLIA COM NOVOS OLHOS. Os gays geralmente temem a Bíblia, por não estarem familiarizados com seu contexto, pensam que a Bíblia só tem más notícias para os mesmos. Na verdade, a Bíblia foi escrita num contexto patriarcal, culturalmente heterossexualista. Não pense desta maneira e tenha certeza que mensagem do amor incondicional de Deus em Cristo é o poder para a salvação de homossexuais e heterossexuais. Uma leitura corajosa da bíblia pode oferecer nova vida aos homossexuais, suas famílias e amigos. Cada vez mais cresce um consenso entre respeitáveis teólogos do mundo inteiro sobre o entendimento de que a Bíblia não condena a homossexualidade. Cristãos contemporâneos têm se focado em provar que a Bíblia não condena a homossexualidade. Está no tempo de irmos além dessa posição. Não é suficiente que a Bíblia simplesmente não condene a homossexualidade. Os gays e lésbicas devem ser capazes de dizer que, ‘sim, está é nossa história, também!’ ABRINDO AS PORTAS DO VELHO ‘ARMÁRIO’. A crítica da teologia da liberação e do feminismo bíblico tem mostrado que a Bíblia, da ordem para autorizar todas as pessoas o dever de lê-la com novos olhos do ponto de vista das pessoas oprimidas. Quando nos lemos as histórias bíblicas através da experiência de hoje, nos podemos sair alegres com a nova relevância. O que acontecerá se assumirmos que os gays e lésbicas sempre estiveram na Bíblia. Histórias semelhantes as nossas seguiram Moisés e Mirian no Êxodo e andaram com Jesus no mar da Galiléia. Os Gays estão em todos os lugares, e sempre estiveram, ainda que fechados para sua sexualidade. É tempo de liberar corajosamente alguns personagens ou histórias gays, lésbicas, ou bissexuais do antigo ‘armário’ da bíblia. Séculos de silêncio em comentários bíblicos e livros de referência precisam ser quebrados para alcançar a verdade bíblica sobre a sexualidade. Existem na Bíblia referências ou histórias sobre gays e lésbicas consistentes com as que os historiadores e antropologistas sabem sobre a sexualidade durante os tempos bíblicos? A resposta é, sim. Algumas histórias são incontroversas. Outras são convincentemente gays e lésbicas. E existem outras histórias curiosamente sugestivas de relacionamentos do mesmo sexo. Todas estas podem autorizar os homossexuais a se regozijarem abraçando a bíblia. DEUS ABENÇOA OS ESTÉREIS. Um bom lugar para se começar é com a conceituação bíblica de imortalidade. O antigo testamento não é muito claro sobre um conceito consistente de vida após a morte. O primeiro modo que se poderia alcançar a imortalidade era através de seus herdeiros. O pior fato que poderia acometer alguém era ser cortado do seu próprio povo. Isso poderia se dar pelo exílio em certos crimes, pela execução em outros crimes, ou pela morte sem deixar algum filho. Prosperidade e ter muitos filhos eram vistos como dois sinais do favor de Deus. (Salmo 127:3-5; salmo 128:3-6). MELHOR QUE FILHOS E FILHAS. Neste contexto, mulheres estéreis eram consideradas malditas. Uma mulher digna era conceituada pela sua habilidade de dar filhos ao seu marido. A bíblia é repleta de histórias de que desesperadamente oravam para Deus abrir suas trompas (Salmo 113:9; Gênesis 30:1; I Samuel 1:10). A esterilidade se tornou-se metáfora usada pelos profetas para descrever a comovente condição de Israel quando se sentiam abandonados ou amaldiçoados por Deus. Isaías 54 começa com o relance comovente desta metáfora. A mensagem profética de Isaías então revoga a maldição da esterilidade e Israel se torna uma mulher estéril com muitos filhos. Dois capítulos depois, Isaías usa o termo ‘árvore seca’ para significado dos Eunucos. É também associado ao termo isolado para Eunucos. O termo Eunuco em Isaías 56 é possivelmente um termo genérico para incluir homens e mulheres não tiveram filhos. A referência principal na Lei que pode ser fonte de exclusão dos eunucos do templo é Deuteronômio 23:1. Levíticos 21:17 diz que ‘nenhum que tiver qualquer defeito poderá se chegar para oferecer pão a seu Deus’ isto também exclui eunucos na antiga religião pagã eram sacerdotes do templo, e também exclui crianças nascidas de uniões incestuosas. Ultimando Isaías proclama um pacto com promessa aos Eunucos e Estéreis um lugar melhor do que filhos e filhas e um nome eterno que nunca se apagará. ALGUNS NASCERAM EUNUCOS. Quem foram os Eunucos dos tempos bíblicos? A palavra Eunuco parece se referir a homens castrados (normalmente para servir a realeza feminina em segurança). Entretanto, existem referências de Eunucos como oficias da corte que não eram necessariamente eunucos fisicamente. Eunucos referidos em Gênesis, Isaías, Jeremias e Daniel, como também no novo testamento não eram todos eles homens castrados. Eunuco é uma palavra mais genérica que pôde bem ter incluído os estéreis, gays da corte de oficiais estrangeiros, magos e sacerdotes, bem como homens castrados. Homens castrados eram freqüentemente, funcionalmente, se não constitucionalmente, homossexuais. CASAMENTO NÃO É PARA TODOS. Jesus fala sobre três tipos de Eunucos: ‘Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o.’ (Mateus 19:12). Pode se assumir que Eunucos ‘que pelos homens foram feitos tais’ são aqueles que foram castrados. Aqueles que ‘a si mesmos se fizeram eunucos’ são os celibatários voluntários. Entretanto, e aqueles que ‘nasceram’ eunucos? Jesus deixa claro que casamento não é para todos. Este é um importante comentário feito por Jesus, que reconhece outros estilos de vida além do casamento heterossexual, aplicados aos homossexuais. Existem duas histórias de Eunucos negros, ambos oficiais da corte real, exemplificando a ação redentora de Deus. Em Jeremias 38, um Eunuco etíope salva a vida de Jeremias. Jeremias em troca trás uma mensagem de Deus para o Rei que descreve como Jerusalém será salva. Outro Eunuco etíope, em Atos 8, é batizado pelo Apóstolo Filipe. O Eunuco estava lendo Isaías 53 (muito perto de Isaías 54 e 56) a passagem profética do messias que descreve o destino sofredor daquele que foi cortado da terra dos viventes. O Eunuco recebeu a mensagem de que aqueles que tinham sido cortados seriam incluídos. Daí, então a sua pergunta? ‘O que impede que eu seja batizado?’ Filipe respondeu ‘nada’. JESUS ESCOLHE UMA NOVA FAMÍLIA. Jesus Cristo é o cumprimento de Isaías 53, foi cortado de seu povo por dois modos: ele foi executado como criminoso e morreu sem deixar filhos. Ele foi funcionalmente, não fisicamente, Eunuco. A morte e a ressurreição de Jesus redefiniu vida eterna, desassociando a necessidade de produzir filhos. Certa vez, quando confrontado por sua mãe biológica e seus irmãos, Jesus apontou seus discípulos como uma nova família, dizendo: ‘Aquele que faz a vontade de Deus este é meu irmão irmã e mãe.’ (Marcos 3:31). JESUS VIVEU UM ESTILO DE VIDA ALTERNATIVO. A Relação de Jesus nos evangelhos difere grandemente dos chamados núcleos familiares contemporâneos. Jesus amou Lázaro, Marta e Maria. O que atraiu Jesus para esse grupo de família não tradicional de um irmão solteiro vivendo com duas irmãs solteiras? Duas irmãs solteiras e um irmão também solteiro era uma família adulta que Jesus escolheu. Nós presumimos que eles eram celibatários heterossexuais? E se Marta e Maria não fossem irmãs mais chamavam uma a outra de irmã como muitos casais de lésbicas através da história? De fato, na Bíblia não se conhece quase nada do ideal pós reformação de monogamia, vida romântica do casamento heterossexual. O retrato de casamento bíblico está em termos de prosperidade e transações de negócios, poligamia, extensão de famílias, grupos tribais, casamentos levianos e outros estilos de vida. O preconceito anti-casamento no novo testamento e a ênfase negativa do sexo das primeiras teologias são bem conhecidas pelos historiadores e estudantes da sexualidade humana. A nova comunidade cristã em Atos inclui viúvas sem filhos, ex-prostitutas, pários sociais, celibatários, pessoas casadas, eunucos, negros, judeus e gentis. Aqueles excluídos previamente foram agora totalmente incluídos na promessa de Isaías 56: ‘A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.’ RELACIONAMENTOS DE MESMO SEXO NA BÍBLIA? O Livro de Rute é uma história romântica, mas não entre Rute e Boaz. Noemi é, de fato, característica central e Rute a sua redentora. O relacionamento de Boaz com Rute, está distante de ser romântico, não passou de uma questão de dever familiar e propriedade. Esta história contém a mais comovente promessa de fidelidade num relacionamento entre duas pessoas em toda a Bíblia: ‘Respondeu, porém, Rute: Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Porque aonde quer que tu fores, irei eu; e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus.’ (Rute 1:16) Ainda que usadas em casamentos heterossexuais este voto é entre duas mulheres. Quando seu marido morreu na batalha, Rute fez este voto a Noemi, sua sogra. Rute casou com Boaz, um parente perto e redimiu o lugar de Noemi em sua própria família, também suportando um filho para Noemi. Rute e Noemi tiveram um relacionamento lésbico? Não existe meios para sabermos, mas está claro que duas mulheres tiveram uma vida longa, passional, relação com comprometimento celebrado nas escrituras. UNIÃO NUM PACTO DE AMOR, DAVI E JÔNATAS. Outra história, a de Davi e Jônatas, ocorreu num tempo quando amantes masculinos eram comuns e considerado nobre. Este trágico triangulo passional, ciumento, intrigante e político entre Saul, Jônatas e Davi, lidera um dos mais expressivos relacionamentos de amor entre pessoas do mesmo sexo na bíblia: ‘Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; muito querido me eras! Maravilhoso me era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres.’ (II Samuel 1:26). É clara a beleza masculina de Davi (I Samuel 16:12). Nesta história de amor e lealdade e marcada pelo romance (I Samuel 18:1-5), encontros secretos (I Samuel 20:1-23;35-42) lágrimas e beijos (I Samuel 20:41), recusa a comer (I Samuel 20:32-34), e o explícito pacto de amor que se manteve até após a morte de Jônatas (I Samuel 20:12-17;42). Não se pode ler esse acontecimento sem discernimento de que Jônatas foi o amor da vida de Davi. Séculos de interpretações homofóbicas bíblica os manteve no armário por muito tempo. ALGUMAS QUESTÕES IMPORTANTES. Isto é tudo que há? Algumas profecias sobre estéreis e eunucos e dois relacionamentos entre pessoas de mesmo sexo? Não existe mais e, os estudiosos precisam explorar mais possibilidades: Os eunucos na história de José (Gênesis 39 e 45), e no Livro de Éster, eram também Gays, residindo nas cortes reais, e ajudando os Lideres de Deus? Na parábola da mulher que perdeu a uma das dez drácmas (Lucas 15). São os homossexuais a drácma achada em nossos dias? Os gays e lésbicas são estimados em 10% da população? A petição do Centurião a Jesus para cura do seu servo que era querido para o mesmo (Lucas 7). A palavra Grega em Mateus 8 é semelhante ao significado de ‘rapaz escravo’, que comumente descrevia relacionamento homossexual naqueles tempos. Por que Jesus louvou a fé daquele homem e não condenou seu modo de viver? QUE DIFERENÇA ISTO FAZ? Que diferença isto faz para os gays e lésbicas se verem na Bíblia? Isto os ajuda a saber que as pessoas da Bíblia foram também como eles, não falsamente assumindo que todos eles foram heterossexuais. Nestas referências para homossexuais, não existe condenação e nenhuma referência para interpretações homofóbicas da História de Sodoma ou da Lei de Levítico. Isto convida as comunidades homossexuais a lerem a Bíblia sem medo tomarem posse da mensagem da salvação para as suas vidas.” (22)
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(22) http://www.igrejametropolitana.hpg.ig.com.br/index.htm. 16/02/2003, 17:00.
É por tudo isso que já me decidi por juntar-me à luta dos homossexuais contra o preconceito e a favor das uniões homossexuais e, seguindo o conselho de Marcelo Cerqueira do Grupo Gay da Bahia, pedir à Igreja, como forma de protesto à tal discriminação totalmente infundada, a revogação de meu batismo.

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